“— Xururuca, vim fazer uma coisa.
— O que é?
— Vamos esperar um pouco?
— Vamos.
Sentei e encostei minha cabeça no seu tronquinho.
— Que é que nós vamos esperar, Zezé?
— Que passe uma nuvem bem bonita no céu.
— Pra quê?
— Vou soltar o meu passarinho.
— Vou, sim. Não preciso mais dele…
Ficamos olhando o céu.
— É aquela, Minguinho?
A nuvem vinha andando devagar, bem grande, como se fosse uma folha branca toda recortada.
— É aquela, Minguinho.
Levantei emocionado e abri a camisa. Senti que ele ia saindo do meu peito magro.
— Voa, meu passarinho. Bem alto. Vá subindo e pouse no dedo de Deus. Deus vai levar você para outro menininho e você vai cantar bonito como sempre cantou para mim. Adeus, meu passarinho lindo!
Senti um vazio por dentro que não acabava mais.
— Olhe, Zezé. Ele pousou no dedo da nuvem.
— Eu vi.
Encostei minha cabeça no coração de Minguinho e fiquei olhando a nuvem ir-se embora.
— Eu nunca fui malvado com ele…
Aí virei o meu rosto contra o seu galho.
— Xururuca.
— Que foi?
— Fica feio se eu chorar?
— Nunca é feio chorar, bobo. Por quê?
— Não sei, ainda não me acostumei. Parece que aqui dentro a minha gaiola ficou vazia demais…”
Meu Pé de Laranja Lima. 

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